sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Entendimentos de Rosa


A Rosa segue entre o bebê e a menina. É muito inteligente e joga bem na posição de irmã de meio. Hora é mocinha como a Clarissa, hora bebê como o José. Alguns acessórios de bebê conseguimos tirar esse ano: a fralda durante o dia e, o que parecia invencível: a chupeta! Mas no lugar da chupeta, entrou sempre um bonequinho que anda com ela para todos os cantos. O preferido: ursinho Pimpão! - o que faz dela uma espécie de bebe grande fofo e gostoso de apertar como o próprio ursinho.Enquanto ainda se utiliza desse elementos de segurança próprios dos mais pequenininhos, ao contrário dos outros dois irmãos que gritam todo tempo por atenção - ela, como boa irmã do meio (pelo menos assim era minha irmã do meio) - é a mais independente de todos. Brinca sozinha, fica horas sem chamar, vê televisão, inventa histórias com seus bonequinhos. E é só em alguns momentos quando estamos a sós com ela que podemos ver as incríveis coisas que passam por essa cabecinha. Um dos meus momentos favoritos é levar a Rosa ao banheiro para fazer cocô. Coisa de mãe maluca, quem pode gostar desse programa? Mas o fato é que ela não gosta de ficar sozinha e solicita companhia de uma mãe paciente - pois o processo pode levar cerca de 40 minutos! - e aí que começam as histórias. Recentemente ela vira pra mim no banheiro e fala:
- mamãe, eu sei muito bem quem são meus irmãozinhos. É o José e a Caíssa! 
- sim, filha, são os seus irmãos.
- só que eu nasci primeiro e depois nasceu o José e depois a Caíssa. 
- é filha, você foi o primeiro bebê que nasceu na nossa família. A Clarissa nasceu antes, mas ela só chegou na nossa família depois. E o José foi o ultimo a nascer.
- É mamãe, a Caíssa nasceu e a gente não sabia onde ela estava. A gente procurou ela em todo lugar. Atrás da cortina, embaixo do sofá, embaixo da mesa, atrás da porta...
- foi Rosa? E onde a gente achou ela? - Na casa dos amigos! E aí ela nasceu na nossa família. 

Vale dizer que para explicar a fila de adoção, dizemos que decidimos ter um filhinho e avisamos na Vara para eles procurarem nosso filhinho e aí ligaram porque acharam a Clarissa... 

Hoje, ainda a pouco, tivemos uma nova sessão banheiro. E ela disse:
- tem um dragãozinho bebe que tem duas mamães. O médico foi, ajudou a fazer ele e depois ele ficou com uma coisa verde no umbigo e nasceu. 

- Ah é? 
- é. Igual eu. Eu não nasci da sua barriga. Eu tava na barriga da mãe Marta e eu chutava você. 
- como é isso?
- você falava comigo e eu chutava na sua mão. Aí eu saí da barriga e fui pro seu colo.
- foi assim mesmo, Rosa. 
- mas aí o pai do dragãozinho morreu... 

Acabou e eu limpei ela e fomos para o quarto. Tem um mês que ela nos pergunta se o pai dela morreu... Já dissemos que não, que ela não tem pai, ou pelo menos não tem um que faça parte da nossa família, que tem um moço legal que deu uma sementinha e que assim, e com a ajuda de um médico, ela foi parar na barriga da mãe Marta e nasceu. E ela viu uma foto do nascimento com o cordão umbilical e por isso a coisa verde no umbigo do dragãozinho... rs
Mas acho que ela está precisando usar a morte para falar da ausência. Não no sentido de falta, mas nomeando o que não há. Enfim, vamos acompanhando mais essa etapa de seu entendimento nas idas ao toillet.
O melhor dessas histórias é a mistura do sonho e da realidade, do dragãozinho e da Rosa, da duvida às soluções puramente inventadas.
A Clarissa, também nos seus entendimentos, andou questionando o período de aproximação (quando visitávamos, mas ainda não podíamos levá-la para casa...). Ela lembrou algumas situações assim e tivemos a maior dificuldade de explicar. Acabou que ela só se acalmou quando falamos que foi um momento difícil para nós também. Ela disse que chorava e a gente contou que chorava também. Isso deu a ela um certo alento. A Rosa faz parte dessas conversas muitas vezes. Um desses dias, a Clarissa falou:
- lembra que eu tava na casa dos amigos e vocês foram embora e eu chorei?
E a Marta:
- lembro filha. E a gente também ficou muito triste.
Rosa: a mamãe Marta chorou, a mamãe Laula chorou, eu chorei e o José também chorou muito!
Marta: mas agora a gente ta juntinho e ninguém precisa mais chorar.
Rosa: É. E mamãe, você lembra que eu fui para casa do meu namorado, aquele que cozinha, e você chorou, a mãe Laula chorou, a Caíssa chorou, o José chorou e aí eu voltei pra nossa casa?
- lembro disso não, minha filha!
E assim seguimos explicando o mundo.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Vida de Viajante

Adoraria escrever mais no blog, mas acaba que se tornou um espaço para alguns balanços da vida em família no lugar de dividir eventos, dúvidas e fofurices cotidianas (que são muitas!) –  mas para isso acabo usando o facebook. Hoje retomei o blog porque estava refletindo sobre o ano que passou. Definitivamente nos habituamos a ser mães de três – nós nos habituamos, os seres a nossa volta as vezes entram em desespero quando nos chamam para almoçar e nós levamos a tropa toda... Lê-se muitas vezes nos rostos: mas não tinha ninguém para ficar com eles?
Esse ano fizemos a opção de leva-los mesmo a todo o canto. Como estávamos em turnê com nossos espetáculos, foram conosco para Brasília, Espanha, Portugal, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis, Michigan, Nova York e Brasília novamente....! Se soltar qualquer um deles no aeroporto, eles fazem o check in sozinhos! Rs Haja avião, restaurante, hotel... (gente olhando torto...) e com isso eles não começaram a natação, nem a aulinha de musicalização que eu tanto queria. Eles aprendem outras coisas, claro. Gostam de música, artes plásticas, teatro, apreciam paisagens – a Clarissa, mesmo quando voltamos para o Rio, quando vê algo bonito fala: vamos parar pra ver mamãe? Não quer bater uma foto? - E, principalmente, ficamos todos juntos e esse sempre foi o principal objetivo.
Por um lado,  foi uma delícia essa nossa vida de viajante. Delícia mesmo, pois apesar da maioria achar impossível viajar e trabalhar com 3 crianças fizemos disso a rotina da nossa família e é sempre muito gostoso. As crianças se animam com as viagens (e se comportam, na medida do possível), adoram frequentar as coxias e sair para ver lugares novos. Nos especializamos em descobrir os museus para crianças e agora querem ir a museu todo final de semana... Mas as meninas já sentiram que esse ano perderam a apresentação de final de ano da escola...
A vida com os espetáculos não é fácil. As vezes estamos muito bem, mas outras vezes estamos estressadas demais, cansadas demais e eles veem tudo isso muito de perto. Fico me questionando se não deveria priorizar a rotina deles, o universo deles no lugar deles se adaptarem ao nosso...  Nossa vida sempre foi cheia de variáveis, épocas cheias de trabalho e épocas de plantar e, com as crianças, eu buscava aproveitar as vacas magras para ficar mais presente e as gordas para dar mais conforto, mas hoje me pergunto se eles não precisam mesmo de mais estabilidade.
Quer dizer, 3 filhos é muita responsabilidade (x3 e ao cubo) e minha vida de artista é mambembe. Eles seguem como uma mini trupe de circo e ok, são filhos de artista de teatro, fazer o que? Mas confesso que hoje estou morrendo de medo. Quanto mais eles crescem mais medo eu tenho. O bebê mama no peito e pronto, mas a cada dia meus filhos apresentam mais necessidades que estão fora de nós, do nosso corpo...

Só espero saber continuar conciliando e tendo sabedoria para prover as necessidades dos meus três pequenos cada dia mais cheios de individualidades e demandas próprias. Que em 2014 eu ache um equilíbrio entre a minha profissão e a maternidade, entre risco e segurança, entre estar junto e deixar ir.