segunda-feira, 1 de julho de 2013

Uma Boia Ideia

Semana passada a Clarissa virou pra gente e falou: "Mamãe, tenho uma boia ideia" e, antes que ela continuasse, a Marta corrigiu BOA ideia filha - a Marta está, com razão, bastante preocupada com as dificuldades de fala da Clarissa, afinal, ela já fez 4 anos e a grande maioria dos seus amiguinhos já fala perfeitamente. Muito bem, ela começou de novo:  "Mamãe, tenho uma boua ideia!" E eu respondi: "Sim filha, o que é?" "Você era mamãe da Caíssa, quando a Caíssa era píquinininha!". Gelei por dentro. Tudo que eu consegui responder foi, é sim filha, era uma boa ideia.
Passou uma semana sem falarmos nisso e hoje estávamos mexendo nas fotos das crianças para colocar o registro do aniversário no álbum de cada um. Aliás, a festança do aniversário dos 3 foi fantástica, mais de 100 pessoas aqui em casa (ufa!) e os pequenos não podiam ter ficado mais radiantes. Enfim, estamos ainda desfrutando da festa, alguns brinquedos ainda falta abrir, parte da decoração (como os desenhos das meninas nas paredes) ainda estão pela casa e agora estávamos, finalmente, fazendo o álbum de fotos. Mas nessa de mexer nos álbuns, surgiu uma foto da Marta com a Rosa bebê no colo. Temos fotos da Rosa bebê pela casa, no meu colo e no colo da Marta e colocamos uma da Clarissa bebê também, pois demos a sorte do abrigo ter nos dado algumas fotos antigas dela. Ela sabe que não estava conosco nessa época, mas gosta de ver a foto. O que nos supreendeu foi que, dessa vez, vendo a foto da Marta com a Rosa, ela falou: "Eu quéo uma foto da Caíssa pequenininha no colo da mãe Marta!". Doeu o coração. Falei: "Você é pequenininha, filha. E você tá no colo da mãe Marta!".
Eu aqui enrolando e filosofando e a Marta acaba de chegar no quarto (ela estava fazendo a Clarissa dormir que, por conta do episódio, estava bem agitada...) e me disse: "Eu falei com ela." A gente sempre valorizou a história dela, a casa dos amigos, de onde ela veio, mas nunca tínhamos falado a palavra adoção, já dissemos que ela veio de outra barriga, que não era das mamães, mas tudo sempre de forma muito lúdica e eu e Marta concordávamos que ela andava pedindo uma explicação mais concreta. Pois bem, a Marta me disse que ela falou: "Você vai cuidar da Caíssa bebê!" E Marta respondeu: "Você tá agitada porque você viu uma  foto da Rosa bebê no colo da mãe Marta, né filha? Acontece que não tem uma foto sua bebê no colo das mamães, e sabe porque? Porque a gente só se conheceu depois, porque você foi adotada. E sabe o que quer dizer ser adotada? Quer dizer que a gente escolheu ser sua mãe e que você escolheu ser nossa filha. E que, agora, a gente vai ficar junta pra sempre." Ela abraçou a Marta e dormiu. Ainda bem que a Marta existe e pôde falar com ela com tanta facilidade. É certamente o melhor, sem drama.
Mas a verdade é que eu queria ter visto o que eu não vi... é uma dor não ter podido estar lá para ela desde o primeiro minuto, evitar que ela sofresse tanta coisa... Mas posto que eu não posso, ela vai sendo pequenininha com a gente todos os dias e nos deixa entrar também no seu passado a medida que nossso conhecimento é cada dia mais profundo.

No dia mesmo do aniversário dela, 29 de maio, fizemos um bolinho aqui em casa só pra ela. Tínhamos imprimido umas fotos dos 3 em várias fases para um mural que fizemos na "super festa da Rosa, do José e da Clarissa!", inclusive algumas fotos dela bebê... Na hora do parabéns, pronta para soprar a velinha, a Clarissa pegou uma foto dela bebê colocou na frente do corpo e gritou: "Gente, gente! Olha a Caíssa pequenininha!". Fotografamos. Ela e a foto. Desse jeito, ela se apresentou bebezinha para toda família que aqui estava. E ganhou muito colo!