sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Estrelinha...


Faz uma semana essa conversa e tentando conta-la para minha mãe, percebi que estava esquecendo os detalhes e que esse é um capítulo importante da vida da minha filha Clarissa e que os grandes capítulos eu vinha escrevendo aqui. Então vim. Registrar.


Clarissa tem perguntado mais claramente sobre sua família de origem. Aos 6 anos, atingiu a idade da razão e está sendo capaz de compreensões surpreendentes. Antes da elaboração, no entanto, ela passou umas semanas manhosas, birrentas e isso, normalmente, indica alguma angustia que ela vai conseguir dividir um pouco mais tarde. Até que chegou a pergunta: "Por que a moça que me teve na barriga não me quiz?". Ficamos baratinadas. Minha primeira resposta foi: não sei se ela não te quiz. Sei que você tinha que encontrar sua família de verdade, que era a nossa família. Ela sabia que você ia encontrar suas mamães de verdade em algum lugar.  Estávamos engolindo seco para dar as respostas, desviamos o assunto.
O dia seguinte era o dia internacional da adoção. Depois de pensar muito, voltamos ao tema com as crianças. Explicamos que era um dia especial. Que a gente celebrava as crianças que nasceram de uma barriguinha "emprestada". E que na nossa família, os três haviam nascido dessa forma! A mamãe Marta emprestou a barriga pra mamãe Laura ser também mãe da Rosa, a mamãe Laura emprestou a barriga para a mamãe Marta ser também mãe do José e a moça que a gente não conhece emprestou a barriga para sermos mamães da Clarissa. E então perguntamos: e quem sabe o nome disso? De quando a gente usa uma barriga emprestada para nascer? E a Clarissa: amor? Sim, amor pode ser o outro nome de adoção... 
Ficamos mais tranquilas porque tivemos a certeza de que o principal ela sabia. Mas as questões não pararam por aí. Afinal, não tínhamos respondido nada direito... No mesmo dia a noite, a Clarissa viu uma moça amamentando e perguntou: "Eu mamei no peito da moça da barriga?" E a Marta: "Sim". 
E Clarissa: "E quando eu mamava no peito dela, ela era minha mãe?"
Dessa vez eu não estava. Marta falou: você quer que eu conte tudo que eu sei dessa moça? Clarissa concordou.
A história contada foi a verdade. Em liguagem que ela pudesse entender. A moça estava muito doente. Sabia que não podia ser mamãe de ninguém. "Como ela sabia?", Clarissa interrompeu. Marta explicou que tem momentos em que não conseguimos cuidar nem da gente, então não podemos cuidar de outro. Mas que quando a Clarissa nasceu, ela ainda não sabia como fazer para a Clarissa encontrar sua família de verdade. Então ficou com ela e amamentou, que é o que se deve fazer com um bebezinho... Mas então a Clarissa também ficou doente e precisou ir para o hospital e foi aí que ela soube que era a hora. Que no hospital cuidariam melhor dela e poderiam ajuda-la a encontrar sua família. E assim foi. Clarissa ficou feliz com a resposta e pediu que Marta contasse tudo novamente quando estivéssemos todos juntos para que os irmãos e eu, Mãe Laura, ouvíssemos a história. Quando chegamos no carro ela pediu para a Marta: "conta mamãe...". Marta então retomou toda a história. Dessa vez, Clarissa fez dois adendos. Quando chegou na parte do hospital ela perguntou: "Mas eu não fiquei triste quando ela me deixou lá?". Respondi que talvez sim, deve ter ficado com saudades, mas que também ficou feliz "porque você estava muito fraquinha sem poder andar, correr brincar... e no hospital cuidaram de você e você foi podendo fazer todas essas coisas!" Mas Clarissa seguiu:
- Ela já morreu?

Eu:
- Não sei, filha.
Ela:
- Eu acho que sim, porque essa história faz muuuuuuuito tempo...
Eu:
- Talvez você tenha razão... (a moça era doente e vivia na rua...)
Ela:
- Mamãe, quando a gente morre vira estrelinha?
Eu:
Isso, filha....
E ela não tocou mais no assunto. Tem uma semana. Acho que, por ora, a estrelinha resolveu para ela esse lugar da origem. Achei lindo como ela construiu sozinha esse caminho para uma explicação que lhe faria bem... E vamos em frente. Até a próxima construção!