

- mamãe, eu sei muito bem quem são meus irmãozinhos. É o José e a Caíssa!
- sim, filha, são os seus irmãos.
- só que eu nasci primeiro e depois nasceu o José e depois a Caíssa.
- é filha, você foi o primeiro bebê que nasceu na nossa família. A Clarissa nasceu antes, mas ela só chegou na nossa família depois. E o José foi o ultimo a nascer.
- É mamãe, a Caíssa nasceu e a gente não sabia onde ela estava. A gente procurou ela em todo lugar. Atrás da cortina, embaixo do sofá, embaixo da mesa, atrás da porta...
- foi Rosa? E onde a gente achou ela? - Na casa dos amigos! E aí ela nasceu na nossa família.
Vale dizer que para explicar a fila de adoção, dizemos que decidimos ter um filhinho e avisamos na Vara para eles procurarem nosso filhinho e aí ligaram porque acharam a Clarissa...
Hoje, ainda a pouco, tivemos uma nova sessão banheiro. E ela disse:
- tem um dragãozinho bebe que tem duas mamães. O médico foi, ajudou a fazer ele e depois ele ficou com uma coisa verde no umbigo e nasceu.
- Ah é?
- é. Igual eu. Eu não nasci da sua barriga. Eu tava na barriga da mãe Marta e eu chutava você.
- como é isso?
- você falava comigo e eu chutava na sua mão. Aí eu saí da barriga e fui pro seu colo.
- foi assim mesmo, Rosa.
- mas aí o pai do dragãozinho morreu...

Mas acho que ela está precisando usar a morte para falar da ausência. Não no sentido de falta, mas nomeando o que não há. Enfim, vamos acompanhando mais essa etapa de seu entendimento nas idas ao toillet.
O melhor dessas histórias é a mistura do sonho e da realidade, do dragãozinho e da Rosa, da duvida às soluções puramente inventadas.
A Clarissa, também nos seus entendimentos, andou questionando o período de aproximação (quando visitávamos, mas ainda não podíamos levá-la para casa...). Ela lembrou algumas situações assim e tivemos a maior dificuldade de explicar. Acabou que ela só se acalmou quando falamos que foi um momento difícil para nós também. Ela disse que chorava e a gente contou que chorava também. Isso deu a ela um certo alento. A Rosa faz parte dessas conversas muitas vezes. Um desses dias, a Clarissa falou:
- lembra que eu tava na casa dos amigos e vocês foram embora e eu chorei?
E a Marta:
- lembro filha. E a gente também ficou muito triste.
Rosa: a mamãe Marta chorou, a mamãe Laula chorou, eu chorei e o José também chorou muito!
Marta: mas agora a gente ta juntinho e ninguém precisa mais chorar.
Rosa: É. E mamãe, você lembra que eu fui para casa do meu namorado, aquele que cozinha, e você chorou, a mãe Laula chorou, a Caíssa chorou, o José chorou e aí eu voltei pra nossa casa?
- lembro disso não, minha filha!
E assim seguimos explicando o mundo.